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Em meu sangue

Em meu sangue corre o sangue dos pés que pisaram as areias quentes do deserto, arrastando pedras para a glória faraônica; da pele que transpirou sob o sol ardente do Egito; das costas que foram acoitadas; dos olhos que choraram as humilhações de ser um escravo; dos corações que ainda conseguiam sustentar a fé; das gargantas que reprimiam o grito “Liberdade!”.

Em minhas veias corre o sangue dos olhos que viram o milagre do mar vermelho ser aberto e das pernas que o cruzaram; dos corações crédulos e incrédulos que seguiram Moises; dos pés que vagaram o deserto por 40 anos; dos que acreditavam na Terra Prometida e daqueles que não tinha por que acreditar... O mesmo sangue daqueles que viram Canaã pela primeira vez.

Corre em mim o sangue da raça mais uma vez dominada; das cabeças inconformadas por serem obrigadas a se inclinar diante do poder de Roma; dos punhos audaciosos que lutavam pela libertação do povo; das mãos que se juntavam em oração silenciosa, rogando ao Senhor para que o Messias das escrituras fosse enviado e libertasse a nação.

Meu sangue é o sangue dos braços maternos órfãos de seus pequeninos após Herodes bradar “Matem todos os bebês meninos!”; dos ouvidos que finalmente escutaram as promessas do Reino dos Céus na voz doce do nazareno; dos olhos que se encantavam com cada milagres que presenciavam; dos que acreditavam que aquele homem era o Homem Santo, aquele que libertaria seu povo: eis diante deles o Messias tão aguardado.

Tem em meu ser o sangue dos corações que não queriam só ouvir promessas e dos olhos ansiosos por ação; dos braços que ergueram ramos para saudar o Homem Santo; dos que queriam prende-lo e dos que desejavam protege-lo; das pernas que o perseguiram e o encontraram; das mãos que açoitaram o Filho de Deus, mas não conseguiram sequer arranhar seu espírito; dos corações que tiveram que escolher entre o homem de belas palavras e o revolucionário que lutava por liberdade; das gargantas que gritaram “Libertem Barrabás!”.

Dos pés que acompanharam a Via Crucis; dos olhos que assistiram a agonia de um homem carregando a própria cruz; dos ouvidos que escutaram as marteladas de um corpo ser pregado à madeira, acompanhados de seus gritos que dor...os mesmos que ouviram seu ultimo suspiro. Todo esse sangue pulsa em minhas veias.

Pilatos, Pedro, Judas, Madalena... Todos estão em mim numa só corrente... Num morno, rubro e palpitante fluído...

Em meu sangue corre o sangue dos mais uma vez perseguidos, agora pelo Império Santo de Roma; dos que eram apontados como hereges, pagãos e até mesmo bruxos só por não se converterem a religião da nação dominante; dos corações que omitiam sua verdadeira fé para continuarem vivos; dos olhos que derramaram incontáveis lágrimas ao serem obrigados a se converter se quisessem sobreviver; dos membros impiedosamente quebrados pelos Santos Inquisidores; dos corpos que arderam nas fogueiras e viraram cinzas.

Tenho em meu corpo o sangue do povo que, com o correr dos séculos, foi se acostumando a paz; dos corações que não mais temiam perseguições; dos indivíduos que podiam andar pelas ruas como cidadãos comuns,sem serem vítimas de agressões.

E tem também o sangue das mentes confusas que não compreendiam o que tinham feito de errado para mais uma vez serem perseguidos, humilhados, agredidos... Das cabeças baixas em uma revolta controlada quando suas casas eram invadidas e seus bens confiscados... Das faces esbofeteadas e dos lábios que tinham que manter seus protesto e silencio... Dos corações mais uma vez oprimidos pelo medo... Das pernas que galgaram submissas aos guetos... Da nação que não tinha o direito de serem tratados como humanos.

Dos tórax que foram alvejados em praças públicas; dos homens e mulheres que foram transportados em trens como se fosse gado; dos seres enclausurados nos campos de concentração; das faces banhadas de lágrimas por mais uma vez serem escravos; do peito oprimido pela presença constante do vulto da morte; das crianças separadas de seus pais; dos pais privados de suas crianças; dos ouvidos assombrados pelo nome “Auschwitz”; dos pulmões envenenados nas câmaras de gás; dos corpos jogados em valas sem qualquer respeito e depois empilhados para serem queimados... Esse sangue é o meu sangue.

Em meu sangue corre a história do povo escravizado no Egito... Dominado por Roma... Perseguido na Santa Inquisição... Dizimado na Segunda Guerra...

Em meu sangue corre o sangue dos corações que anseiam que a humanidade não repita aqueles vergonhosos erros... Que apenas desejam que o preconceito seja eliminado, as diferenças respeitadas, pois somente assim a paz com que todas as nações sonham poderá virar realidade.
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Desde muito nova tenho uma profunda admiração e respeito pelo povo judaíco; e me doía o coração estudar por tudo que eles passaram.

Esta foi uma humilde forma de homenagea-los.

Fuga Inútil - 4


MINHAS FERIDAS CHORAM PARA O TÚMULO
MINHA ALMA CHORA PARA A LIBERDADE
SEREI EU IGNORADA POR CRISTO?
TORNIQUETE
MEU SUICÍDIO...

Meu pescoço está sangrando novamente... Não consigo respirar, o ar não entra em meus pulmões! Está ficando frio, muito frio... Morrendo de novo... Caindo de novo... Meus gritos por socorro não saem de minha garganta... Quando dou por mim, estou caída no chão.

Não quero mais sangrar a todo momento, não quero mais sentir minha morte constantemente. Tento tapar meu corte com as mãos, mas é inútil... Posso sentir o líquido quente escorrer por entre meus dedos e cobrir meus braços.

Esse maldito ferimento me atormenta, me alucina a cada segundo, não me permitindo esquecer o quanto fui covarde, de como fui fraca e incrédula! Eu deveria ter sido forte, resistido àquela situação. Não deveria ter tentado fugir! Descobri, da pior forma possível, que a fuga não existe... Os que tentam escapar da dor terrena, te o infortúnio de conhecer uma dor muito pior...

Lágrimas incontáveis correm por mima face. Olho pro céu, mas não enxergo nenhum sinal de esperança. Estou arrependida, quero sair daqui, quero que essa dor pare de me flagelar... Mas não adianta chorar agora, meu arrependimento não tem mais qualquer valor. Pequei e tenho que pagar pelo meu erro.

Os gritos dos condenados não chegam ao céu e se chegam, são ignorados por todos. Os covardes optaram por esse castigo ao não confiarem em Deus.

Então, aqui estou. Presa, sem salvação, sem esperanças, sentindo dor, sofrendo... Condenada a essa tortura a todo instante. Com um arrependimento sincero, porém ignorado até mesmo pelo salvador.

Deixei minha fraqueza falar mais alto. Vou pagar por isso pra sempre... Todo sempre...

O castigo dos suicidas... Meu castigo...

E lá vou eu novamente correndo para a Igreja... Estou parada gritando... Com um simples movimento corto meu pescoço... Sangrando... Não consigo respirar... Está frio... Caída de morta...

Correndo para a Igreja, chorando como nunca havia chorado antes...


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Bem, eis aí a última parte de "Fuga inútil". Finalmente consegui postá-la toda.
Não sei o que vocês acharam, mas particularmente gosto desse texto.
Ele foi escrito há cerca de 4 anos, quando eu estava saindo da uma crise de depressão extrema e que escrever foi uma ótima terapia para me reerguer.
É isso, espero que tenham gostado.
Beijo a todos ^^

Fuga Inútil - 3

MEU DEUS, MEU TORNIQUETE
DEVOLVA-ME A SALVAÇÃO
MEU DEUS, MEU TORNIQUETE
DEVOLVA-ME A SALVAÇÃO

Deus, estou de joelhos diante de Vós, implorando seu perdão. Não estou sendo hipócrita, chamando o Senhor só para acabar com esse sofrimento. Realmente quero que me perdoe por não ter tido coragem de aceitar a vida da forma que ela se apresentou a mim; por ter sido covarde e fraca diante daquela situação; por ter tentado fugir de tudo de foram tão vergonhosa.

Não agüento mais! Não sei como fazer essa dor parar! Só o Senhor pode acabar com esse sofrimento. És o único que pode um fim em tudo isso.

Por isso eu Vos rogo, imploro que me perdoe! Tenha misericórdia e me tire desse pesadelo constante que se desenrola em minha cabeça e castiga meu espírito! Não suporto mais me ver morrer a todo momento!

Será que o arrependimento dos suicidas não tem valor? Será que os gritos dos covardes não chegam aos ouvidos do Criador? Nenhum de nós merece sair daqui? Ficarei aqui por toda a eternidade?

Lá estou eu no meio da Igreja, enquanto sou alvo do olhar de todos...

VOCÊ SE LEMBRA DE MIM?
PERDIDA PPOR MUITO TEMPO
VOCÊ ESTARÁ DO OUTRO LADO
OU VAI SE ESQUECER DE MIM?
ESTOU MORRENDO, SUPLICANDO, SANGRANDO E GRITANDO
ESTOU TÃO PERDIDA ASSIM PARA SER SALVA?
ESTOU TÃO PERDIDA ASSIM?

Meu amor por ele era tão grande, que nem eu mesma entendo por que aquele sentimento era tão intenso. Não conseguia imaginar minha vida sem ele. Todas as noites imaginava como seria meu futuro ao lado do meu grande amor. Eram sonhos lindos, perfeitos... Era tudo como eu desejava, tudo que eu precisava para ser feliz.

Fui uma estúpida! Tirei minha própria vida por acreditar que não conseguiria viver se o amor dele! Idiota! Cretina! Como fui fazer isso comigo mesma?! Por que fui tão covarde?! Ele não merecia aquele espetáculo absurdo de alguém se matando por ele. Enquanto passo por esse sofrimento minuto após minuto, hora após hora, dia após dia, ano após ano, morrendo a cada instante por minha insensatez, ele deve estar vivendo feliz ao lado da esposa, brincando com os netos; pouco se importando no que poderia ter acontecido comigo.

E quando for a hora dele partir do plano material e alcançar o céus, meu coração se enche de dor com a certeza de que ele não perguntará aos anjos sobre mim sobre qual foi meu destino. E se perguntar, duvido que interceda por mim.

Sem salvação, condenada por toda a eternidade a viver no Vale dos Suicidas; com um corte aberto, sangrando a todo momento. Clamando por uma salvação que não terei.

O frio da lâmina tocando em minha pele me causa arrepios sempre que esse pesadelo se repete em minha cabeça.